Feira de Flores e Chocolate mostrou experiências de sucesso no campo
Integrante do Assentamento Nova Vitória, no KM 13 da rodovia Ilhéus-Uruçuca, a produtora rural Euflorzina Boaventura de Matos, de 53 anos, toca a vida entre o campo, plantando cacau, banana, hortaliças e frutas em um lote de oito hectares com a ajuda do marido e, nas horas vagas, a fabricação de queijo de búfala com o leite produzido por cinco animais que cria. Para negociar a produção de queijos, dona Euflorzina percorre as ruas de Ilhéus, embora saiba que o seu negócio poderia ser bem mais lucrativo se tivesse acesso a cursos de qualificação e de empreendedorismo. “Meu sonho é poder participar de eventos, abrir os horizontes, vender minha produção em prateleiras”, revela.
Outra produtora rural, Rita de Cássia Matos, de 34 anos, integra um grupo de 13 mulheres do Assentamento Luanda, localizado às margens da rodovia Itajuípe-Coaraci. Enquanto os homens trabalham na lavoura, as mulheres produzem artesanato e apresentam como diferencial a confecção de camisas a partir de tecido orgânico e reciclagem com garrafas PET. Utilizando sempre a temática do cacau, os desenhos estilizados nas camisas valorizam o sistema cabruca, modelo de cultivo conservacionista, com uso de sombreamento feito por árvores nativas da região. A cada camisa vendida, uma árvore é plantada na área do assentamento. O que as 13 mulheres responsáveis pela iniciativa querem, agora, é promover a marca, criar uma identidade e ampliar as possibilidades de mercado.
Durante a I Feira de Flores e Chocolate do Sul da Bahia, realizada de 27 a 29 de março, na Fazenda Yrerê, rodovia Jorge Amado (Ilhéus-Itabuna), dona Euflorzina e Rita de Cássia receberam a garantia de que a ajuda da qual precisam estará, em breve, disponível, através de uma parceria entre o Sebrae, a Secretaria estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e o Instituto Cabruca, segundo informou o representante da ONG, Cláudio Lyrio. A idéia, segundo ele, é elaborar um catálogo de produtos e criar um portal de comercialização online, iniciativas que serão acompanhadas por um estudo de mercado, capacitação técnica e um plano de ação comercial para cada negócio envolvido no projeto.
Semente de uma nova visão - “Debater o empreendedorismo foi, sem dúvida, a grande semente plantada durante a realização da feira”, assegura a gerente regional do Sebrae, em Ilhéus, Claudiana Figueiredo. O Sebrae ofereceu cursos e oficinas sobre perspectivas e novas oportunidades ao homem do campo.
“A proposta é que o empreendedor enxergue além da porteira da fazenda e fique atento às necessidades do consumidor que está aqui fora”, explica o consultor da área de agronegócio do Sebrae, Claudemiro Brandão.
A iniciativa de mostrar caminhos para além da produção agrícola foi apreciada pelo pequeno produtor Carlos Elísio, líder no assentamento Três Marias, no município de Barro Preto. “Não dá para empreender sem conhecimento. E esses encontros, debates, são fundamentais para abrir a nossa visão sobre bons negócios”.
Estudantes do Instituto Federal da Bahia (IFBA) também participaram do evento. Maria Rosa Oliveira, da primeira turma do curso Superior de Tecnologia em Agroecologia, no campus de Uruçuca, destaca a importância desta troca de experiência e informações. “Abre as portas para as mais diversas formas de meios de produção no campo. Podemos aqui, por exemplo, debater sobre agricultura e turismo como atividades econômicas baseadas na sustentabilidade”, elogia.
Apoio a boas idéias - Segundo os participantes, este avanço proposto é possível quando há boas idéias, planejamento estratégico e apoio institucional. Uma das bem sucedidas iniciativas que une produção e bons negócios a partir do cacau produzido no sul da Bahia vem, por exemplo, do Assentamento Terra Vista, localizado no município de Arataca. A iniciativa de fazer o chocolate artesanal surgiu dos próprios assentados que já trabalham há anos com a agroecologia.
As engrenagens para este desenvolvimento ganharam ritmo com a implantação do Projeto de Recuperação e de Conservação dos Recursos Naturais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que promoveu a recuperação de reservas ambientais em Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e a inclusão de práticas conservacionistas e de educação ecológica, em 2006. A ação foi decisiva para o avanço do modelo agrícola entre as famílias do Terra Vista.
Hoje, o assentamento também abriga dois centros educacionais que oferecem ensino fundamental, cursos profissionalizantes e de nível superior com enfoque na agroecologia para 854 estudantes.
O chocolate produzido pelos assentados, que já atendeu ao paladar exigente no Salão do Chocolate, em Paris, também esteve em exposição durante a Feira.